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Apesar da promessa, Talibã impede mulheres e meninas de voltarem a estudar no Afeganistão

Após a reabertura das escolas, em poucas horas as meninas foram enviadas de volta para casa.

Depois que o Talibã tomou o poder no Afeganistão, em agosto de 2021, mulheres foram impedidas de frequentar escolas e faculdades. Mas o grupo extremista  voltou atrás da decisão e prometeu abrir as escolas para meninas em 23 de março.

Com isso, fizeram com que a comunidade internacional acreditasse que o “novo governo” seria mais flexível e não seguiria os moldes do passado. A falsa impressão durou pouco, pois ao retornarem ao colégio, as jovens do Ensino Médio foram enviadas para casa poucas horas depois. 

O porta-voz do Talibã, Inamullah Samangani, confirmou a informação, sem dar mais detalhes. “Não estamos autorizados a comentar”, reagiu o representante do Ministério da Educação, Aziz Ahmad Rayan, conforme o G1. 

Reação das estudantes

“Vejo minhas alunas chorando e reticentes em deixar a aula”, disse Palwasha, professora na Escola Para Mulheres Omra Khan, em Cabul. 

A enviada da ONU ao país, Deborah Lyons, afirmou que as informações sobre o fechamento dos estabelecimentos eram “preocupantes”.

O acesso das meninas às escolas é um ponto fundamental nas negociações internacionais para o reconhecimento do regime Talibã. Os governantes do mandato anterior — entre 1996 e 2001 — proibiram a educação para as mulheres

Agora, porém, o que o mundo espera é que haja respeito aos direitos das mulheres no Afeganistão, além do cumprimento das leis dos direitos humanos de modo geral. 

Alegações do Talibã

Os talibãs tentaram se defender alegando que precisam de tempo para garantir que as jovens com idades entre 12 e 19 anos permaneçam bem separadas dos garotos.

Até agora, eles trabalham para que escolas e faculdades sejam administradas de acordo com os princípios islâmicos. “Não abrimos as escolas para agradar a comunidade internacional ou para obter o reconhecimento do mundo”, declarou Ahmad Rayan, porta-voz do ministério da Educação.

“Nós fazemos isso como parte da nossa responsabilidade de fornecer educação e estruturas educacionais às nossas alunas”, acrescentou. Uma das estudantes, Raihana Azizi, de 17 anos, reclamou: “Já estamos atrasadas em nossos estudos”. 

Entre o desejo de estudar e as restrições

As estudantes estavam ansiosas para voltar às aulas, apesar das regras que as obrigam a se vestir cobrindo todo o corpo. Mas, por enquanto, o governo não cumpriu sua promessa e não deu explicações.

Vale ressaltar que a pobreza e os conflitos que devastam o país já levaram os alunos afegãos à perda de vários anos letivos. 

Além disso, o Afeganistão agora enfrenta escassez de professores, já que muitos fugiram, ao lado de dezenas de milhares de afegãos, após a tomada de poder pelos talibãs.

Em sete meses de governo, os talibãs determinaram várias restrições às mulheres, que foram excluídas dos empregos públicos, enfrentam controles da sua forma de vestir e são impedidas de viajar sozinhas para fora de suas cidades.

O regime fundamentalista também prendeu várias ativistas que defenderam os direitos das mulheres. “As meninas que concluíram os estudos permanecem em casa e seu futuro é incerto”, lamenta Heela Haya, que decidiu abandonar a escola.

Ideologia que subjuga as mulheres

De acordo com a Portas Abertas, a quebra da promessa por parte do Talibã não surpreendeu já que a ideologia do grupo islâmico visa subjugar as mulheres.

Conforme Hana Nasri — nome fictício por razões de segurança — no dia em que o Talibã tomou o poder “foi aprovada a ‘sentença de morte’ para qualquer mulher que tenha uma carreira profissional”. 

“Independentemente das escolas abrirem ou não, o currículo a ser usado (se as escolas forem abertas) será destinado a fazer lavagem cerebral e mantê-las escondidas, debilitando-as e retardando seu crescimento. A ideia é paralisá-las”, explicou. 

“A possibilidade de ir de casa até uma escola dá um poder mínimo a essas meninas e mulheres, coisa que o Talibã deseja impedir. Elas têm aparições públicas limitadas sem um acompanhante masculino e estão segregadas em espaços públicos”, disse.

“As mulheres estão confusas, zangadas, desapontadas e com medo, tanto dentro como fora do país”, concluiu Hana.

Via Guiame, com informações do G1 e Portas Abertas.

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